REVOLUÇÃO/REVOLTA PRAIEIRA NOS PERIÓDICOS ELETRÔNICOS[1]
Paulo Ricardo
Pimenta da Cruz[2]
No período
referente ao segundo reinado surgiram várias inquietações populares, como por
exemplo, a revolução/revolta praieira que aconteceu possivelmente entre 1848 –
1850[3]. Muitos
pesquisadores desenvolveram suas pesquisas sobre o assunto, tentando apresentar
as possíveis causas, ou origem da insurreição, seu desenvolvimento e se
desfecho histórico, portanto, o presente trabalho se desenvolverá utilizando as
informações disseminadas nos periódicos eletrônicos encontrados na internet.
Com base nos
textos lidos, percebe-se que a revolução/revolta praieira é comumente
relacionada a ideais liberais que iam contra ao partido conservador, visto que
eles queriam acabar com o poder moderador que só o imperador tinha, além de
defenderem a importância do federalismo.
Segundo Odilon
Nogueira de Matos, o “movimento revolucionário [..] de fins
de 1848 a princípios de 1849, agitou a província de Pernambuco, conhecido pelo
nome de revolta ou revolução "Praieira", em alusão ao jornal que,
duma certa forma, inspirou os seus princípios —o "Diário Novo",
situado à rua da Praia” (MATOS, s/ano, p. 83). Isso é um importante aspecto
sobre a praieira, visto que os liberais do Recife
utilizavam esse jornal como meio de divulgação e suas ideias, portanto, existe
esta relação do jornal com o nome do movimento retratado. Além disso, Odilon
diz ser importante conhecer um pouco do contexto histórico do século XIX em que
a mesma se desenvolveu, como por exemplo, o conflito com a política econômica
latifundiária organizada pela aristocracia rural.
Referente ao
recorte espacial trabalhado no presente trabalho: 1848 – 1850, convém ressaltar
que o mesmo foi marcado por diversas inquietações políticas e sociais,
principalmente em período de eleições no Recife.
É que, neste espaço de tempo, a
disputa entre conservadores e liberais acabou se transformando em um sério
confronto armado. Após a queda do gabinete liberal, em 1848, e a ascensão de um
ministério conservador, sob a direção de Araújo Lima, os políticos liberais pernambucanos
viram a estrutura de poder, que havia sido montada enquanto eles dominaram o
cenário político provincial, ser desmontada pouco a pouco (SILVA, 2009, p. 31).
Em primeiro momento, percebe-se que há um conflito de ideais
políticos e sociais entre os liberais e conservadores, que consequentemente
culminou, em conflito armado, chamado por Silva de convulsão social, que fez as
forças policiais legais/oficiais redobrarem a repressão e o policiamento sobre
os recifenses. Como Silva analisou de perto os documentos policiais do período,
afirma que a maioria dos rebelados capturados e presos eram homens, em sua
maioria livres e nacionais e escravos, no entanto, alguns estrangeiros também
acolheram o movimento. “Contudo, nem sempre
era necessário que alguém fosse preso em flagrante para ganhar um repouso
forçado na cadeia. Uma simples suspeita ou uma denúncia, ainda que vazia, era
suficiente para tal” (SILVA, 2009, p.
34). Em relação aos escravos, a suspeição de que os mesmos pudessem “engrossar”
as fileiras dos motins era maior ainda, portanto, a vigilância policial estava
atenta aos desdobramentos sociais, empregando diversas táticas de repressão,
como por exemplo, a prisão e o alistamento forçado.
De acordo com
Marcos Carvalho (2003), existiam muitos indivíduos livres, alguns ricos e
outros mais pobres, de camada subalternas que poderiam ser considerados
“sedutores” dos povos, pois se empenhavam a mobilizar a população de Pernambuco
e Recife a favor da insurreição praieira, entre eles, o liberal radical Borges
da Fonseca. Em relação à possível origem da história da Praieira, Carvalho
afirma que a literatura sobre o assunto é rica em informações, e que a mesma
pode ser sentida desde o início da década de 1940, com o surgimento do “Partido
Praieiro”, que era uma dissidência do Partido Liberal. Ainda segundo o autor,
cabe dizer que os primeiros conflitos aconteceu devido Chicorro da Gama,
apoiados pelos praieiros, elegível a presidência de Pernambuco havia ganhado a
eleição, mas não pode assumir o cargo devido os Cavalcanti, importantes
senadores conservadores terem anulado a eleição.
De acordo com
Carvalho, inicialmente o partido liberal estaria em destaque na corte pela
escolha do imperador. No entanto, com o reconhecimento do Senado e dos irmãos
Cavalcanti, isso começou a mudar, ou seja, o poder foi gradativamente passado
para as mãos dos conservadores, isso faria parte da “gangorra imperial”
referente às eleições.
Ao assumir o poder, o governo
praieiro começou a substituir os delegados e subdelegados de polícia na
província, o que aumentaria imensamente o poder das suas bases locais. Em torno
de 600 autoridades foram demitidas e, obviamente, substituídas por aliados dos
praieiros. Houve reação e atritos armado sem várias localidades, principalmente
durante as eleições, atestando satisfação de muitos proprietários com a chamada
gangorra da política imperial. Com a queda dos liberais na Corte em
1848, a gangorra cairia do outro lado, recomeçando o festival de demissões.
Um grupo de mais de 40 proprietários rurais ligados aos praieiros, todavia,
recusou-se a entregar os cargos na polícia e a devolver as armas em seu poder.
A Insurreição Praieira começou quando uma tropa foi tentar desarmar o coronel
praieiro Manoel Pereira de Moraes, senhor do engenho Inhamam, em novembro de
1848. A raiz da Praieira foi esta disputa pelo poder local, principalmente
pelos cargos na Polícia Civil, e secundariamente na Assembleia Provincial, nas
Câmaras, na Justiça de Paz e Guarda Nacional (CARVALHO, 2003, p. 212. Grifo Meu).
Ou seja, foi
um conflito “intra-elite” que ganhou forte repercussão social. Segundo
Carvalho, a revolução/revolta praieira ganhou diversos nomes nos textos
escritos no próprio período, portanto, é preciso tomar cuidado com a retórica
dos autores e com seus antagonismos. Um dos possíveis nomes seria “Guerra do
Moraes” referente a face da praieira no campo. Outro assunto discutido pelo
autor seria a participação popular no movimento, que ao seu modo de ver,
estaria relacionado a algumas relações de clientelismo, algumas até mesmo,
insubordinadas, dificultando a coesão do mesmo, questionando assim, os limites
da obediência. Além disso, Carvalho diz ao estudar as fontes contemporâneas à
praieira, que as mesmas retratam os praieiros como um grupo de pessoas ligados
aos rebeldes, portanto, eram classes perigosas.
Como já foi
dito, tanto Carvalho como Odilon, dizem que é preciso ter cuidado com a
retórica do escritos, ao observar outras fontes, pois ao questionar: “Quem
era esse povo do Recife? Para os liberais pernambucanos, nele não estavam
incluídos os escravos, os mendigos, os índios” (CARVALHO, 2003, p. 223), mas
para a imprensa, os mesmos estavam inseridos.
No entanto,
Carvalho afirma que não se pode negar a participação popular no movimento,
principalmente porque o mesmo poderia gerar lucros, visto que alguns ganhavam
dinheiro para compor as tropas, principalmente frente as disputas radicais
encontradas nas eleições. Havia outros motivos, como:
A principal reivindicação dessa gente toda era a
nacionalização do comércio a retalho. Propor a expulsão de portugueses, ou ao
menos excluí-los do comércio miúdo, eram propostas nativistas que durante a
Sabinada na Bahia já haviam catalisando o apoio popular. O nativismo nasceu nas
Américas como um instrumento ideológico a serviço das elites
crioulas, aglutinando em um nível ideal grupos sociais em condições distintas
ou mesmo opostas. A construção dessa noção não implicava apenas excluir
estrangeiros. O mais importante era a maneira como os demais eram assimilados.
Ao amalgamar brancos, negros e mestiços livres nascidos no Brasil num bloco só,
em oposição aos portugueses, o nativismo encobria diferenças mais profundas de
raça, classe e condição legal. Isso sem falar no abismo cultural que separava
os negros livres e libertos nascidos no Brasil, dos brancos das camadas
dominantes. O discurso nativista dissolvia identidades profundamente
enraizadas, colando os desiguais em face da utopia do Estado-nação provedor de
direitos (CARVALHO, 2003, p. 229).
Os praieiros
defendiam o federalismo, a maior participação política no comércio, entre
outros aspectos listados na citação acima, portanto, apesar da forma
“desconcertada” de organizar o movimento, o grupo heterogêneo de praieiros
tinham interesses semelhantes e concretos, ou seja, suas buscas não eram
utópicas e vazias pois tinha finalidades específicas que condizia com a
realidade social do momento.
Segundo Odilon
a bandeira do movimento seria:
o
"Manifesto ao Mundo", de 1 de janeiro de 1849, em que se encontra a
bandeira da revolta, condensada na convocação de uma Assembleia Constituinte
com o objetivo de reivindicar os seguintes pontos: "1.° ) O voto livre e
universal do Povo Brasileiro; 2.°) A plena e absoluta liberdade de comunicar o
pensamento por meio da imprensa; 3.°) O trabalho como garantia de vida para o
Cidadão Brasileiro; 4.°) O comércio a retalho só para os Cidadãos Brasileiros;
5.°) A inteira e efetiva independência dos poderes constituídos; 6.°) A
extinção do poder moderador e do direito de agraciar; 7.°) O elemento federal
na nova organização; 8.°) Completa reforma do poder judicial, em ordem a
assegurar as garantias dos direitos individuais dos Cidadãos; 9.°) Extinção da
lei do juro convencional e 10.°) Extinção do atual sistema do recrutamento.
Programa avançado para a época, que surpreendeu a muitos dos próprios adeptos
da Revolução, que não queriam ir tão longe (s/ano, p. 89).
Contudo, tratava-se
de uma revolução/revolta liberal que tinha interesses sociais concretos, e que
tinha interesses, por ora, como diz Carvalho (2003), até utópicos. Sobre a
liderança da insurreição praieira, pode se dizer que:
logo abaixo de Nunes Machado ou
Borges da Fonseca,havia líderes de trabalhadores especializados e semi especializados,
que conduziam seus seguidores norteados por uma noção de legitimidade clara e
objetiva.Para eles, o alvo imediato não era o Estado imperial, mas aqueles que consideravam
aliados dos portugueses que ocupavam os empregos urbanos (CARVALHO, 2003, p.
233).
Os
“insurretos” chegaram a tomar a cidade de Olinda, mas foram vencidos pelas
forças oficiais do império, visto que não se mantinham unidos, pois enquanto
uns se organizavam para montar guerrilhas, outros se davam aos saques, ou seja,
a maneira como se “aglomeravam” deixavam muitas brechas que os oficiais souberam
aproveitar para desnorteá-los em sua trajetória, sendo isso um dos motivos que
os impediram de conquistar o palácio governo da província de Pernambuco, uma
das mais importantes no momento.
Com base nas
leituras dos periódicos eletrônicos selecionados, percebe-se que a
revolução/revolta praieira é um assunto muito importante a ser analisado, pois
revela aspectos importantes sobre a formação política e ideológica do Brasil.
Além disso, diversos textos apontam o movimento como sendo um objeto de estudo
passível de se desenvolver um trabalho de pesquisa interdisciplinar, visto que
envolve várias áreas do saber científico.
Referências bibliográficas
SOUZA, Rainer. REVOLUÇÃO PRAIEIRA. Disponível em: http://www.brasilescola.com/historiab/revolucao-praieira.htm.
Acessado 25/09/14.
Revolução Praieira. Disponível em: http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/revolucao_praieira.htm. Acessado em 25/09/14.
Revolução Praieira. Disponível em: http://maniadehistoria.wordpress.com/revolucao-praieira/. Acessado em 25/09/14.
A Revolução Praieira em
Pernambuco1848-49. Disponível em: http://www.ahimtb.org.br/c3n.htm.
Acessado em 25/09/14.
CARVALHO, Marcus J. M. de. Os nomes da Revolução: lideranças populares
na Insurreição Praieira, Recife, 1848-1849. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbh/v23n45/16526.pdf.
Acessado em 25/09/14.
MATOS, Odilon Nogueira de. ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A REVOLUÇÃO
PRAIEIRA. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/viewFile/34822/37560.
Acessado em 25/0914.
SILVA, Wellington Barbosa da. Rebeldes encarcerados: repressão policial
durante a Revolução Praieira (Recife, 1848-1849). Disponível em: https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=3&cad=rja&uact=8&ved=0CC4QFjAC&url=http%3A%2F%2Fwww.ifch.unicamp.br%2Fojs%2Findex.php%2Frhs%2Farticle%2Fdownload%2F232%2F218&ei=-JwqVMfNFYnIgwSN4oCoDw&usg=AFQjCNE6Co218Ze2Re1SalLMmStGjeXccQ&bvm=bv.76477589,d.eXY.
Acessado em 25/09/14.
[1] Trabalho elaborado em 2014
para fins de avaliação parcial da disciplina de História do Brasil II, do 3º
ano do curso de Licenciatura em História, da Universidade Estadual de Goiás,
Campus de Jussara – GO, sob orientação do professor Dr. Deuzair José da Silva.
Texto na íntegra, sem alteração.
[2] Graduado em História pela
Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Jussara. Lattes: <http://lattes.cnpq.br/3282710796114586>.
[3] Alguns autores escreveram
que a mesma se estendeu de 1848 – 1850, e outros, 1849-49, entre outros.
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